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- Vamos brincar de pega-pega?
- Vamos! Com quem q tá?
- Comigonãomorreeeu!
- AAAAh, tá com você!
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Em um domingo completamente comum, estava entretida com a ala infantil no quintal da nossa avó (clichê não?), até que algo me chama a atenção... era um olhar perplexo, nitidamente direcionado a mim, que não vinha de nenhum dos baixinhos, e sim do outro lado, ao pé da escada onde ele estava lá, parado, boquiaberto: um adulto. Hesitei alguns momentos até entender o que havia errado comigo para despertar tal olhar, mas mal eu tinha compreendido e ele se tornou divertido. Isso somado a um leve movimento de negação da cabeça... tudo virou um tipo de desaprovação engraçada... Ruborizei quando a compreensão finalmente chegou. Por alguma razão, me senti mal, aquele tipo de vergonha que dá quando eu falo alguma coisa pessoal demais acidentalmente na frente de pessoas que não deveriam estar ouvindo aquilo... constrangedor.
Como eu não tenho força de vontade nenhuma para conseguir parar de brincar com crianças, deixei pra lá naquele momento. Mais tarde, ainda na casa, quase todos cochilavam, inclusive os pequenos, exceto eu. Aquela cena da manhã veio à mente.Que mundo é esse em que vivemos, em que um adulto brincando bobo e feliz é olhado incredulamente, quando pais matando seus filhos são vistos com nada vez mais naturalidade no jornal da noite? Que lugar é esse que políticos roubando descaradamente o dinheiro público são menos esquisitos do que um adulto se lambuzando enquanto come um doce sentado no tapete da sala?
Nos tornamos todos homens civilizados caminhando por aí. Mas todos de olhos vendados, preocupando-se somente com os próprios tombos, seguindo em linha reta.
Nossa única e solitária linha reta.
Aprendemos como nos portar diante do mundo, aprendemos todas as regras, o que é certo e o que é errado, português, matemática, química, geografia... E desaprendemos a escutar, a se expressar, a tentar fazer a diferença... "Ado, ado, ado, cada um no seu quadrado...". Vemos coisas ultrajantes, ofensivas, deploráveis... isso realmente nos toca de alguma forma... mas o que fazemos a seguir? Mudamos de canal, mudamos de assunto, ou simplesmente encerramos com alguma piadinha. Esse conformismo impulsiona cada um dos vendados em direção a um abismo. O que falta para tirar essa venda de uma vez por todas? Estamos esperando um sinal? Quando começar a ventar muito nessa escuridão cega, é tarde demais. Você está caindo no abismo.
Não sou muito a fim de ventos fortes. Registro aqui minhas tentativas de romper esse nó da faixa que obscurece minha visão, para me tornar realmente consciente, e pegar pela mão quantos eu puder para arrancar quantas vendas meus braços alcançarem e ser livre para brincar de pega-pega, ver Chaves e sujar a cara toda de brigadeiro... em um lugar que brincar é normal e matar e roubar é incomum...
quarta-feira, 6 de maio de 2009
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Cotidiano
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